O The Fourth Wall é uma banda de Portland, Oregon, que mistura rock melódico com uma dose de noise e algumas camadas experimentais. A formação atual conta com Stephen Agustin (voz e guitarra), Kasey Shun (guitarra), Chris Lau (baixo), Kendall Sallay (teclado) e Andrew White (bateria).
O grupo construiu seu caminho de forma independente e já tocou com nomes como The Shins, Andrew Bird e Band of Horses. Mas o foco da banda sempre foi manter a liberdade criativa. Suas músicas geralmente falam sobre pertencimento, imigração e sobre o que fica (ou se perde) quando alguém decide recomeçar a vida em outro lugar.
O som
A proposta do The Fourth Wall não é complicada: guitarras que alternam entre o sutil e o ruidoso, teclados que chegam de leve, mas marcam presença, e vozes que às vezes se entrelaçam, às vezes se distanciam. Tudo isso com uma preocupação em construir um espaço onde as letras façam sentido sem soar explicativas demais.

As músicas têm um clima de inquietação, mas não são pesadas. É aquele tipo de som que parece simples no começo, mas vai revelando camadas aos poucos. Algumas faixas são quase conversas internas que a banda compartilha com quem escuta.
O disco Return Forever
Return Forever, lançado em março de 2024 pela DevilDuck Records, é o quarto álbum da banda. Stephen Agustin começou as gravações durante a pandemia, num processo meio solitário que, mais tarde, virou um trabalho coletivo. O disco fala sobre a tentativa de recomeçar. E sobre tudo o que isso custa.
A ideia surgiu de uma história familiar. Um parente de Stephen deixou a filha para trás ao se mudar para os Estados Unidos. Essa decisão virou o ponto de partida para o que ele chama de “poesia do esquecimento”. O álbum lida com essa sensação de que, para seguir em frente, é preciso apagar partes de quem se foi antes. Ou, pelo menos, tentar.
São nove músicas que lidam com temas como perda, memórias que insistem em voltar e a dificuldade em romper com o passado. Mas o disco não tem aquele tom de drama exagerado. Ele só mostra as coisas como elas são: complicadas, às vezes contraditórias, sempre humanas.
As letras
Ao longo de Return Forever, uma palavra se repete como um fio condutor: heat (calor). Ela aparece em momentos diferentes, sempre ligada a sentimentos intensos. Pode ser um lembrete daquilo que ainda arde ou do peso que vem com as memórias que nunca se apagam. Esse tema atravessa as músicas, mas cada faixa tem seu próprio caminho dentro dessa história maior. A seguir algumas faixas que considerei o destaque do álbum.
– Can’t Lose That Loss
O disco já começa deixando claro que a memória é um fardo impossível de largar. A letra fala de alguém prestes a ir embora, com a sensação de que, por mais longe que vá, não há como fugir do que foi vivido. Tem um trecho que diz: “Once I board that plane, there’s no faster engine that will drive away the memory.” Não importa o destino, as lembranças vão junto. E aí vem o heat, como um aviso de que antes das memórias, tem o impacto emocional que antecede tudo: “Heat. Heat. before the memories.”
A música soa como aquele momento antes de uma partida, em que você sabe que algo vai ficar para trás, mas ainda não entende bem o tamanho daquilo.
– Conatus
Essa faixa parece um reencontro com o passado, mas sem a ilusão de que as coisas vão voltar a ser como antes. Aqui, o narrador sabe que a pessoa seguiu em frente (“I know you have a new love, babe”), mas não consegue evitar reviver os momentos de quando ainda estavam juntos (“I’m recalling the first time you held me in your arms, watching you drift to sleep”).
Tem uma luta entre aceitar a realidade e manter a esperança: “Maybe the dream is dead. Even if I want to keep believing that you’ll return to me.”
O tom é de resignação, mas também de alguém que ainda não conseguiu soltar totalmente.
– Grain By Grain
Essa é uma música sobre segurar as pontas quando tudo parece prestes a desmoronar. A letra fala sobre vergonha (“is I see a shame”) e a necessidade de encontrar alguma alegria para continuar: “I need the joy to keep it all together.”
O heat aqui funciona como uma lembrança constante de que as emoções estão sempre à flor da pele, mesmo quando a pessoa tenta aparentar calma. É como um esforço para não desmoronar aos poucos, grão por grão.
– Interrupts the Dream
Essa faixa explora o quanto as memórias podem invadir até os lugares onde a gente tenta se proteger: os sonhos. Tem um trecho forte que diz “What interrupts the dream becomes the dream.” Ou seja, não tem escapatória – a dor e a raiva aparecem até quando você quer fugir.
Há um conflito claro aqui. Em um momento, o desejo é destruir a lembrança do outro (“All that I wanted was you destroyed”), mas logo depois, a ação é de cuidado (“all I do was hold you”).
É uma música que fala dessa ambiguidade entre raiva e apego, entre querer esquecer e continuar recriando a imagem de quem já foi importante: “I recreate you endlessly.”
– Never A Part
Essa talvez seja a faixa que mais fala sobre aceitação – ou pelo menos sobre a constatação de que não há mais lugar para o narrador na vida do outro. A frase “You’ll never be a part of whatever they are” se repete e soa quase como um mantra doloroso.
A letra descreve alguém caminhando pela casa de quem foi importante, vendo detalhes que agora parecem distantes e estranhos: “Rows of books filled with words I couldn’t read.”
Tem também o questionamento sobre onde o outro está e se ainda pensa em quem ficou para trás: “Wonder where you are when trouble finds your dreams to af.”
É um encerramento sem fechamento real, só aquela sensação de que certas portas simplesmente não se abrem mais.
Por que ouvir
Return Forever é um disco sobre perdas que não se resolvem, sobre histórias que terminam sem grandes conclusões. Fala sobre seguir em frente carregando o que sobrou, sem saber se algum dia vai fazer sentido. Não tem refrão fácil, nem refrão pra cantar junto – é um disco pra escutar prestando atenção. E cada vez que você volta nele, alguma coisa diferente aparece.
O álbum está no Spotify. Escuta lá e depois me conta: Qual faixa te pegou mais? Qual verso ficou na cabeça? Quero saber como isso bateu aí pra você. Para mais informações sobre a banda, acesse o site oficial dos caras: https://www.thefourthwallband.com
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