Na onda de cinebiografias de astros da música que teve início (ou que entraram na moda) com Bohemian Rhapsody (2018), era apenas uma questão de tempo até que tivéssemos um filme sobre Amy Winehouse (Back to Black). Assim como Freddie Mercury, Elton John, Elvis Presley, entre outros, a vida conturbada da genial cantora britânica, que morreu de forma trágica aos 27 anos de idade, tinha todos os elementos para um filme grandioso.
Mas, da mesma forma que as cinebiografias estão na moda, nem sempre elas funcionam, ou, em boa parte das vezes, convenientemente se furtam de mostrar todos os problemas pessoais e mazelas, que contribuem de certa forma, para moldar a personalidade do artista que se tenta retratar.
Back to Black, dirigido por Sam Taylor-Johnson e roteirizado por Matt Greenhalgh, infelizmente não escapa dessa estatística e descamba para um melodrama que não faz jus de forma alguma à trajetória de Amy Winehouse. Não sei até que ponto houve interferência da família da cantora no desenvolvimento do roteiro do filme, mas o fato é que há muita discrepância entre a história contada em tela e o que de fato conhecemos, principalmente levando-se em conta o excelente documentário “Amy” de 2015.
Enquanto no documentário, Mitch Winehouse, o pai de Amy é apresentado claramente como um sujeito oportunista e aproveitador (a ponto de impedir que a filha fosse para a reabilitação após sua primeira overdose), em “Back to Black”, ele ganha um aspecto super protetor e preocupado acima de tudo com o bem-estar da filha. Até mesmo o marido, Blake Fielder-Civil, se torna um personagem mais sensível e em momento algum o roteiro deixa claro que foi ele o principal responsável pelo vício de Amy em drogas pesadas. Na verdade, a impressão que fica é que a cantora foi a única culpada por sua espiral de autodestruição.
E é interessante que até esse momento eu não esteja falando sobre a carreira musical de Amy Winehouse, mas é que o filme também não parece se importar muito com isso! Em pouco mais de 10 minutos de projeção, a cantora vai do anonimato à assinatura de contrato com a gravadora, sem que o público saiba muito bem como isso aconteceu. Pouco é mostrado sobre o processo criativo e sobre a sua capacidade incrível como compositora, mesmo sendo tão jovem. E nem o álbum que à lançou ao estrelato (e que dá nome ao filme) é minimamente detalhado. O foco principal de “Back to Black” é o romance conturbado entre Amy e Blake.
E a questão que sempre chama atenção nas cinebiografias: a caracterização do personagem principal. Bem, eu diria que Marisa Abela, recebeu a tarefa ingrata de representar uma das cantoras mais icônicas dessa geração e entregou uma atuação esforçada, um pouco caricata, mas aceitável. E ainda teve o mérito de cantar de verdade durante todo o filme. Ponto positivo no caso, para os números musicais; são todos muito bem executados. E não há o que reclamar também das demais atuações. A escalação foi muito bem-feita e todos entregam um bom trabalho de interpretação, com destaque para a atriz Lesley Manville, que faz o papel da avó de Amy.
No fim das contas, “Back to Black” nem é ruim como filme, mas deturpa demais a história. É ruim para quem é fã e conhece bem a vida de Amy Winehouse e creio que seja um desserviço, para quem vai conhecer a cantora a partir dessa cinebiografia. Mas, como não se pode exigir muita fidelidade histórica e factual desse tipo de produção, para quem quiser ter uma visão mais próxima da realidade, a melhor opção ainda é o documentário de 2015.
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