Antes de mais nada é preciso dizer que Ferrari não é um filme de corrida propriamente dito. Bom, pelo menos não na essência e se distancia bastante de produções como “Rush” (2013) e “Ford vs. Ferrari” (2019).
O roteiro se baseia no livro “Ferrari, o homem por trás das máquinas”, do jornalista britânico Brock Yates, mas explora apenas um recorte da vida do empresário, mais precisamente o ano de 1957. Na ocasião, Enzo gastava mais com corridas do que com a produção de carros e a fábrica estava à beira da falência. A fim de evitar a quebra, Enzo apostou tudo na lendária corrida Mille Miglia (mil milhas), o que daria um novo fôlego à empresa caso seus pilotos vencessem.
Os fãs de automobilismo e velocidade talvez saiam um pouco decepcionados, pois apesar das cenas lindíssimas e tecnicamente bem filmadas, o foco não está de fato nas corridas como mencionado inicialmente, mas sim no drama pessoal de Enzo Ferrari, que havia perdido um filho no ano anterior e passava por uma forte crise no casamento, tentando equilibrar a vida entre sua esposa Laura e sua amante Lina.
No campo das atuações, Adam Driver entrega uma boa interpretação, mas quem brilha mesmo é Penelope Cruz, com sua atuação visceral no papel da esposa Laura. Sobra pouco espaço para Shilene Woodley, a amante Lina, mas ela não decepciona sempre que aparece. O ponto negativo, na minha opinião, está na insistência em se manter o idioma inglês em um filme ambientado na Itália, retratando a vida de italianos, acrescentando apenas um sotaque constrangedor… Mas enfim, é Hollywood e americano não aceita ler legenda!
O filme caminha perto do novelesco, mas o diretor Michael Mann consegue dosar bem o drama com a emoção das cenas de corrida e os carros lindíssimos, mantendo talvez, o interesse dos fãs da escuderia. Ter focado em um capítulo específico da vida de Enzo Ferrari, evitou também que tivéssemos a clássica cinebiografia de mais de três horas de duração e garante o alcance do filme a um público mais abrangente.
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