“Três Violões e um Só Coração: Kleiton, Kledir e Vitor Ramil em Encontro Histórico no Araújo Vianna”

Cássio Toledo
5 Min Read
Foto: Viviane Carravetta. Insta @viviancarravetta

“Há gira, girou… essa galera.” Uma das famílias mais musicais do Brasil, a família Ramil, esteve representada por seus três grandes expoentes — Kleiton & Kledir e Vitor Ramil, o “bebê”, como os dois irmãos o chamaram em tom de brincadeira durante os intervalos das músicas. Nesse encontro histórico, vivenciado na noite fria de 11 de julho, no palco nacional do Auditório Araújo Vianna, os três puderam, enfim, dividir o palco em um show integral de quase duas horas.

Durante esse tempo, passearam musicalmente por todos os seus clássicos, que moldaram a música do Rio Grande do Sul e a elevaram a um novo patamar nacionalmente. Através de uma linguagem mais urbana, acessível e conectada com os principais ritmos brasileiros — como forró, frevo e bossa nova —, os irmãos levaram a cultura gaúcha a novos públicos numa levada mais pop. Essa identidade já era fortemente marcada desde os tempos ricos dos Almondegas, banda da qual Kleiton e Kledir fizeram parte. Em 2025, celebra-se os 50 anos do disco de estreia do grupo, um marco que representou uma das primeiras vezes em que o pop rock nacional abraçou com força as bandas vindas do Sul do Brasil.

Mais adiante, Vitor Ramil — que desde cedo trilha sua jornada musical — deu continuidade a esse legado, unindo ritmos como milonga e chamamé a elementos de blues e folk, numa levada quase “Dylanística”. Não é exagero dizer que, como Almondegas, os três cumprem um papel semelhante ao do Clube da Esquina ou de grupos como Crosby, Stills, Nash & Young, com seus violões fortemente presentes em obras que encontraram uma roupagem ainda mais folk neste show histórico. A casa estava cheia — e emocionada —, cantando cada verso dos clássicos desse verdadeiro power trio da música brasileira.

Ouvir “Loucos de Cara”, do terceiro disco solo de Vitor, Tango, com os três cantando em uníssono — Vitor na viola e os irmãos nos violões — logo no início do show, já dava o tom de que aquela seria uma noite memorável. O semblante emocionado dos três não deixava dúvida: estavam vivendo algo único.

“Fonte da Saudade”, do disco de estreia da dupla Kleiton & Kledir, de 1980, ganhou um novo frescor com o violino executado por Kleiton. O arranjo, quase country, criou uma ponte sonora entre o folk e o erudito. Já “Tierra”, do álbum Campos Neutrais, de Vitor, e canções como “Nem Pensar” e “Paixão” (que arrancou suspiros do público feminino), todas receberam belos arranjos em violão de nylon. O entrosamento entre os três era tamanha que parecia que já tocavam juntos há anos.

Mesmo com pequenos deslizes — como um dos músicos “atravessando” em certos momentos —, o show ganhou um ar ainda mais intimista. Foi quase como um pocket show, mais descompromissado, que aproximou ainda mais o público. Risos, histórias de família e relatos sobre as influências de cada canção ajudaram a criar um clima acolhedor e leve.

Um dos pontos altos foi uma versão a capella da balada “You’ve Got to Hide Your Love Away”, dos Beatles, do álbum Help!. Mais lenta, com os três em uníssono e apenas violões de aço, a interpretação arrancou aplausos e gritos entusiasmados — uma verdadeira massa sonora em clima “unplugged”.

O espetáculo se encerrou com clássicos da música brasileira e da carreira dos artistas: “Vira Virou”, “Semeadura” (uma das mais agitadas da noite), “Deu pra Ti” (pessoalmente, considero a mais superestimada da dupla — meu momento de ir tomar uma água), “Joquim” (com Vitor trazendo Dylan à cena em um dos momentos mais esperados da noite) e, claro, o hino “Vento Negro”, que fechou com chave de ouro um encontro que dificilmente se repetirá tão cedo. Mas que, ao mesmo tempo, deixou um claro recado: juntos, eles ainda podem criar grandes obras.

O atraso de mais de 30 minutos no início não esfriou a plateia. Pelo contrário: relatos próximos me disseram que foi, para muitos, o melhor show da vida — tanto de Vitor quanto da dupla Kleiton & Kledir. Há muito não se via tamanha conexão musical e emocional entre esses três gigantes da nossa música

Veja as fotos abaixo

Fotos gentilmente cedidas por Viviane Carravetta (@viviancarravetta)

Share This Article
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *