Opinião lotado na noite de ontem, para receber os pernambucanos da Nação Zumbi, na turnê de comemoração de 30 anos do seu disco de estreia, “Da Lama ao Caos”, 1º de dois discos lançados ainda com seu líder, Chico Science (falecido em fevereiro de 1997).
Comemorar discos clássicos já pode ser chamada de uma tradição na música pop mundial, e pode muitas vezes ser considerada uma estratégia ‘caça níqueis’. Mas se ser músico hoje em dia não é tarefa fácil, imaginem no Brasil. Ainda mais considerando o histórico da Nação Zumbi, que sofreu desde muito cedo com a perda de seu idealizador, compositor e alma do grupo. Além disso, a banda, que não lança um álbum de inéditas desde 2014, passa por um novo processo de reconstrução, após a saída do baterista Pupillo e dos membros fundadores Gilmar Bola 8 e do grande guitarrista Lúcio Maia, um dos artífices da sonoridade forjada pela banda no início dos anos 90.
Nada mais justo que a banda, que hoje ainda conta com Jorge Du Peixe nos vocais, Dengue no baixo e Toca Ogan na percussão, aproveite estes 30 anos para comemorar e se reconectar com aquele que é tido como um dos discos mais importantes da música brasileira, de acordo com várias listas, como as da Rolling Stone, O Globo e do livro Os 500 maiores álbuns brasileiros de todos os tempos.
No show, o disco é executado na íntegra, e na ordem que consta no CD (no vinil, recentemente relançado, algumas faixas ficam de fora), com arranjos bem próximos aos das músicas em estúdio, descontado aí o peso incomparável das alfaias, bateria e percussão no ao vivo. A grande diferença, para quem está habituado com “Da Lama ao Caos”, são as vinhetas instrumentais “Salustiano Song” e “Lixo do Mangue”, que aqui viram jams mais extensas. A primeira delas conta, muito apropriadamente, com a participação de um Caboclo de lança e de Maciel Salú, do clã rabequeiro dos Salustiano. Nesse momento, Toca Ogan se junta a eles em uma dança em homenagem a Chico, que se encerra deixando seu chapéu de coco, marca registrada de Science, junto ao microfone.
Ao término do set do disco de 1994, a banda retorna para o bis com outros clássicos da carreira, como “Foi de Amor”, “Meu Maracatu pesa uma tonelada” e encerra a noite com “Maracatu Atômico”, música de Jorge Mautner, anteriormente gravada por Gilberto Gil, mas eternizada na gravação feita pela Nação no também clássico “Afrociberdelia” (1996). Que a Nação Zumbi, que ontem anunciou a chegada de um novo single para breve, viva ainda por muitos e muitos anos. Estaremos por aqui aguardando mais outro show incrível.
Virgilio Migliavacca (@virchico no X – @virgiliomm no Instagram) é servidor público, trabalhou 10 anos na área de financiamento a projetos culturais pelo Governo do Estado do RS. Pai do Théo, apaixonado por quadrinhos, rock alternativo e por uma IPA gelada.
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