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Papangu apresentou sua mistura única de peso, prog e elementos regionais nordestinos no Estúdio RR44 em Porto Alegre

Em meados de 2022, estava ouvindo o saudoso podcast Discoteca Básica, do jornalista Ricardo Alexandre. O episódio era sobre “Da Lama ao Caos”, estreia de Chico Science e Nação Zumbi, disco que completou 30 anos em 2024 (e que ganhará show no Bar Opinião, em Porto Alegre, em 13/02/2025).

Ao final do episódio, Ricardo sempre indica uma banda atual que, se não tem influências claras do artista do episódio, possui semelhanças ao menos em espírito, digamos assim. Na ocasião, a banda indicada foi o Papangu, de João Pessoa.

Logo na sequência, coloquei pra rodar o que até então, era o único disco da banda, “Holoceno”, de 2021. Fiquei impressionado com aquela mistura de sludge-metal, guturais vindos do black metal e elementos do folclore nordestino.

Em 2024 veio a aguardada sequência, “Lampião Rei”, e uma surpresa. O som mantém os momentos de peso do anterior, mas acrescenta grandes doses de rock progressivo. E, para além dos já citados elementos da cultura do nordeste, entram aqui também bem-vindas influências do rock feito naquela região nos anos 70, por artistas cult como Ave Sangria, bem como medalhões como Zé Ramalho e Alceu Valença, tudo para contar a história do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1898 – 1938).

O grupo, formado por Rai Accioly, Vitor Alves, Pedro Francisco, Marco Mayer, Hector Ruslan e Rodolfo Salgueiro, que vinha rodando o país ao longo do ano passado, sofreu um assalto no RJ, ficando sem seus instrumentos e itens de merchandising (parte essencial da renda das bandas independentes). Mostrando determinação, o grupo resolveu levantar a cabeça, e anunciou um tour de várias datas, especialmente em Estados do Sul e Sudeste, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.

Após uma parada em Esteio, encerrando mais uma edição do belo projeto Rock na Praça, a banda chegou em Porto Alegre, em plena segunda-feira de verão, para um show íntimo no estúdio RR44. Coincidentemente, ao encontrar um amigo para ir ao show, ele me entrega em mãos o livro sobre “Da Lama ao Caos”, escrito por Lorena Calábria para a série “O Livro do Disco”, justamente da banda que com toda a certeza, inspirou muito os caras de João Pessoa/PB.

Após um período de troca e venda de merchs (alguns recuperados do assalto já citado), os simpáticos músicos (nesses shows do RS numa formação em quarteto), iniciam os trabalhos, que alterna entre os pesados sons do disco de estreia, e as viagens psicodélicas do trabalho seguinte, com proeminência ao teclado, e incluindo sons de triângulo, flauta e até alguns animais (de brinquedo).

Todos os músicos são extremamente competentes em seus instrumentos, o som no talo e o espaço diminuto e aconchegante, contribuem para uma ótima interação entre a banda e o público, que encerra com um pedido, “Rito de Coroação”, grande canção de encerramento do “Lampião Rei”. O Papangu é uma banda com potencial tremendo, e esperamos que sigam uma longa carreira, e que esta tenha sido a primeira de muitas visitas ao Rio Grande do Sul.

Autor

  • Virgilio Migliavacca (@virchico no X – @virgiliomm no Instagram) é servidor público, trabalhou 10 anos na área de financiamento a projetos culturais pelo Governo do Estado do RS. Pai do Théo, apaixonado por quadrinhos, rock alternativo e por uma IPA gelada.

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