A discussão não é nova. Lá em 1965, Roger Daltrey cantava que esperava morrer antes de ficar velho. Escrita pelo guitarrista Pete Townshend e lançada pelo The Who naquele ano, a canção “My Generation” lembrava o quanto o Rock n’ roll era uma manifestação essencialmente juvenil. Acontece que pessoas – e bandas – envelhecem. Faz sentido tocar e ouvir os mesmos sons de quando se era jovem?
Essa é questão que os também britânicos do Supergrass, e uma plateia que quase esgotou os ingressos para seu show se depararam na noite de 31/08/2025, quando o trio original, formado por Gaz Coombes (guitarra e voz), Danny Goffey (bateria) e Mick Quinn (baixista), acompanhados também de Rob Coombes nos teclados (incorporado à banda oficialmente em 2002) subiu ao palco com apenas 10 minutos de atraso, para seu retorno aos palcos brasileiros, 19 anos após sua última passagem pelo país.
Era uma noite que não prometia surpresas. A divulgação do show já trazia a informação de que seria a celebração de 30 anos do lançamento do debut da banda, “I Should Coco” (falamos sobre o disco no Redação Disconecta – link). Porém, diferente dos outros shows dessa turnê, após a execução das três primeiras músicas do álbum, o grupo interrompe momentaneamente a sequência, para a inclusão de “Late in The Day” e “Mary”, respectivamente de seu segundo e terceiro trabalhos, o que acabou dando um pouco mais de fluidez ao setlist, empurrando o “hit wonder” Alright para um pouco mais a frente na noite, e ressaltando o quanto evoluíram como artistas no decorrer da carreira.
O próprio Gaz Coombes, em determinado momento, aponta o quanto as primeiras canções que compôs têm letras mais simples, mas que está feliz em revisitá-las. Aproveitando o bom clima em cima do palco, Gaz convida seu irmão Charly Coombes, que mora no Brasil há alguns anos, para tocar violão na balada psicodélica “Sofa (Of My Lethargy)”.
Em outras baladas do disco, como “We’re Not Supposed To” e “Time to Go” (que encerra o set de ‘I Should Coco’) a banda promove a troca de instrumentos, com Goffey assumindo o baixo, e Quinn, em determinado momento, se arriscando numa guitarra slide.
O restante do show traz músicas lançadas em 4 dos 5 discos subsequentes (o derradeiro ‘Diamond Hoo Ha’ ficou de fora da festa) e reforça o que já havia ficado evidente anteriormente: o quanto aqueles 3 moleques conseguiram construir uma carreira regular, apesar de por vezes subestimada, num espaço de 10 anos. “St. Petersburg” mostra um lado art-folk, “Richard III” o peso que conseguem imprimir em suas músicas quando querem, e no final, “Pumping on Your Stereo”, mostra o tino pop dos ingleses, que merecia ter tido maior destaque para além da megaexposição de “Alright”.
O show mostra que é sim, muito válido o exercício de revisitar a juventude, mesmo que por alguns momentos, e se divertir descompromissadamente, em meio aos desafios da vida adulta.
Agora espero que, assim como, por exemplo, os contemporâneos do Suede, a banda retome de vez as atividades como força criativa, e que volte logo ao Brasil, dessa vez com novidades. Na abertura da noite, o mestre Edgard Scandurra executou um conciso e ótimo set de 40 minutos, em trio com seu filho Daniel Scandurra (baixo) e Rodrigo Saldanha, do ótimo grupo de Jazz Bufo Borealis (bateria), com músicas de seu disco solo “Amigos Invisíveis” em meio a sons mais e menos óbvios do Ira!.







Crédito das fotos: Virgilio Migliavacca