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The Smashing Pumpkins volta a São Paulo para estraçalhar as abóboras restantes do Halloween

O dia 3 de Novembro foi um dia muito esperado pelo público alternativo, após 9 anos de espera, The Smashing Pumpkins retorna a São Paulo para uma noite recheada de clássicos no Espaço Unimed.

Com direito a lotação esgotada e uma capacidade de 8.000 cabeças no antes conhecido como Espaço das Américas, que comportava, se não estiver enganado, 1.000 ou 500 pessoas a menos.

É claro, que para todo o bônus, há o ônus que todo veterano/iniciante de shows pode passar: a fila na chuva. Entretanto, a sorte e a logística estava a favor da audiência naquele dia. Aquele final de tarde se limitava apenas a uma garoa e em alguns momentos chuvisco e não apenas era um evento em casa fechada, como a organização fez, viabilizando a entrada de todos dentro do estabelecimento.

Antes da apresentação do Terno Rei, o DJ do evento estava bem animado, entretendo os presentes em cada um dos devidos setores com uma dose extravagante de Mercyful Fate, suspeito inclusive, e muito, que tenha sido de uma playlist do próprio frontman Billy Corgan. Uma vez que o próprio já mencionou em entrevistas anteriores que” Melissa”, lançado pelos dinamarqueses no ano de 1983 era um dos seus álbuns de metal favoritos.

Claro, o ecletismo musical fascinante dos “Pumpkins” já demonstra essas influências metálicas na megalomania criativa de Corgan que não apenas abrigou o art rock como o industrial de bandas como Ministry e o Nine Inch Nails nos anos 90.

Abre então o quarteto paulista citado anteriormente, de surpresa, com um de seus maiores hits “Solidão de Volta”, arrancando aplausos e participação de alguns presentes do público, embora esses estivessem ali para a atração principal, como o que vos fala, e se sentiu fisgado pela preferência da banda ao vivo em relação ao ritmo do material de estúdio.

Realmente, a escolha do setlist era perfeita, mantendo o ritmo e intensidade por parte dos presentes na casa naquele momento que puderam apreciar o trabalho dos rapazes.

Chegando ao final da apresentação, o vocalista, Ale Sater agradece a presença de todos, introduzindo a última do setlist que em suas palavras, estava bem próximo do som da banda. A faixa “Esperando Você” então encerra com maestria a abertura da banda em sua terra natal para o fenômeno que todos aguardavam a seguir, inspiração já declarada por Sater anteriormente a execução de seu último ato, mas não só, é também uma das inspirações de todos ali no palco que se sentiam lisonjeados e orgulhosos por terem a oportunidade de abrir para o grupo noventista vindo de Chicago.

O que se via no dia era um público misto etariamente falando. Não é surpresa alguma a penetração de público que a banda teve durante os anos e está presente em influências até mesmo em outras mídias: nos anos 2000. Tivemos o surgimento do mangá “Scott Pilgrim Contra O Mundo”, cujo protagonista na adaptação de cunho duvidoso em comparação a qualidade da mídia original usava uma camiseta com o nome do single Zero durante algumas partes do longa metragem e alguns anos mais tarde nos anos 2010, e assim, começamos a ter um fenômeno em massa de um revival artístico da geração 80 e 90 em diversos campos.

Estavam todos nós ali naquele dia: Geração X, Millenials e Zennials, todos para celebrar o legado de uma das bandas mais importantes do cenário alternativo vinda de uma das décadas mais criativas musicalmente.

Eis que as luzes se apagam, e restam então a iluminação vinda do palco, que introduzia a chegada dos membros da banda, começando em ritmo médio e de suspense os trabalhos com “The Everlasting Gaze”, primeira faixa do álbum “Machina – The Machines Of God (2000)”, canção do cisne da banda antes da reunião, seguindo então para a explosão de “Doomsday Clock” do álbum “Zeitgeist”, faixa que marcou uma geração ao fazer parte da trilha sonora do primeiro Transformers dirigido por Michael Bay e lançado naquele mesmo ano.

Um cover bem presente em shows do grupo dá destaque a terceira do setlist com “Zoo Station” da banda irlandesa U2, performada pelos músicos de Chicago de forma única e com toda característica excêntrica que os Pumpkins possuem.

Eis que, como disse um rapaz ao meu lado naquela noite “agora sim o show começou” com a entrada do single “Today” do álbum “Siamese Dream” que havia implodido a cabeça de muita gente e o mercado musical no ano de 1993 com seu lançamento.

O ritmo melódico que ficou grudado que nem chiclete na cabeça de muitos por 31 anos, finalmente estava sendo recebido com êxtase pela audiência ensandecida. Clássicos da formação de ouro com apenas três integrantes originais: Billy Corgan (vocal/guitarra), James Iha (Guitarra) e Jimmy Chamberlyn (bateria) e junto deles: Jack Bates (no baixo desde 2015), Katie Cole (teclados) e Kiki Wong, recentemente selecionada como guitarrista após uma vaga concorrida por mais de 10.000 músicos para seu posto.

Na sequência, “That Which Animates the Spirit” do álbum triplo ATUM, lançado em 2023, parte da empreitada de divulgação, assim como o recente lançado” Aghori Mhori Mei”, lançada no mês de agosto desse ano. Mesmo que o público estivesse ali pelas clássicas, essas foram recebidas com devida apreciação e aplauso por esses. Talvez chegue um ponto na vida de um artista e membros de bandas no qual sabe-se que o material atual não vai ter o mesmo destaque de outrora, porém, a atenção de quem recebe, mesmo que não tenha grande intensidade é o que importa.

Chega então um melancólico e aplaudido momento, a balada que abre o álbum duplo clássico “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, considerado até hoje, como um hino da Geração X. Falamos é claro, de “Tonight, Tonight” que encantou a todos com seu videoclipe de estética ‘melier’ na época e pela melancolia lírica ao mesmo tempo, dava um vislumbre de esperança em um álbum onde a tristeza e a superação são o “ying yang’ que fazem a sua personalidade. Não teve uma alma presente ali que não tenha participado dessa majestosa e lacrimejante situação, quem não havia ganhado a noite antes, já começou a ganhar ali.

Segue então para “Beguiled”, dando espaço para a faixa do então subestimado “Adore” (que teve sua redenção atualmente) de 1998. “Ava Dore”, com sua sonoridade industrial que seguia a estética com um videoclipe de plano sequência inusitado para a faixa – a grande maioria ali sabia as letras de cor, contraste da segunda apresentação do grupo em terra Brasilis onde os presentes, decepcionados pela seleção de faixas que davam mais espaço para o então material novo lançado no mesmo ano.

Billy empunhou o violão e introduziu em seus acordes facilmente reconhecíveis a faixa “Disarm”, balada que levou muita gente a rio de lágrimas que supera a longitude estratosférica do rio Amazonas, talvez esse, expandido em 1993 depois que muitas jovens se decepcionaram em prantos ao ver na mídia um Chris Cornell (Soundgarden. Audioslave, carreira solo) mais calvo que a careca do Michael Jordan naquele momento, ou talvez do nosso querido nosferatu Billy, trajando sempre seu sobretudo escuro ao vivo, o que se faz lamentar sua não participação das adaptações recentes do personagem que estão por vir nos cinemas em tempos recentes.

O set acústico se manteve com “Landslide”, cover de Fleetwood Mac presente no álbum de sobras Piscies Scariot (1994), surpreendeu no setlist pois não se encontrava presente no show em Brasília dois dias antes, mostrando uma variação de músicas a cada apresentação, assim como algumas surpresas.

Essa que será mencionada logo no final dos detalhes aqui reportados pelo wanna be de David Copperfield da zona Sul nessa resenha – segue com outros covers, “Shine On, Harvest Moon”, da musicista e atriz americana Ruth Ettiing – com ritmo de surpresa e antecipação com a faixa “Mayonaise”, que acordou quem já estava um pouco perdido nos covers e lados b presentes, com a chegada, novamente, da distorção melódica, que não deu trégua e da mesma forma com quem toma um pé na porta e soco na cara, o hino das três gerações participantes, “Bullet With Butterfly Wings”. O refrão explosivo DESPITE ALL MY RAGE I AM STILL JUST A RAT IN THE CAGE acorda até as almas penadas do Cemitério da Consolação em alguns quilômetros de distância ou um ouvinte de punk e hardcore em um show do Dream Theater.

A divulgação de ATUM ainda segue com “Empires”, que logo é seguida por “Perfect”, outro clássico do redimido “Adore”, com uma balada enérgica que não apenas em sua performance, mas no seu próprio nome, fazia jus ao sentimento que muito do público ali estava sentindo em relação ao presenciar esse ESPETÁCULO em um dia de domingo, onde esse primeiro dia da semana costuma ser bem monótono e sem graça, apenas a trupe de Chicago pra dar ânimo num dia desses.

O show continua com mais uma do novo trabalho, “Sighommi”, surpreendendo até os menos íntimos do material recente, com a energia explosiva que lembra o começo da carreira, impressionante mesmo ainda lembrarmos do começo dessa resenha onde citei as influências do Billy se tratando de metal, “Aghori Mhori Mei” é um álbum bem mais metálico se comparado com os anteriores da carreira e que mais lembra os velhos tempos da banda entre 1991-2000.

A energia dos velhos tempos se mantém com a chegada de “1979”, hit presente em muitas trilhas sonoras, desde O Balconista 2 (2006), sequência do clássico noventista de Kevin Smith até o jogo Grand Theft Auto IV (2008) que contém uma das melhores, se não, a mais ousada trilha sonora da franquia desde o seu antecessor San Andreas (2004). Uma balada que remete a sensação de nostalgia onde anteriormente as coisas eram mais tranquilas.

Seguindo de outra canção explosiva do início ao fim, “Jellybelly”‘, nesse momento senti falta de um moshpit no setor onde estava, mas imagino que, possa ter ocorrido em algum outro setor. O público do Pumpkins não costuma ficar estático por muito tempo, ainda mais com variação rica do setlist atualmente.

Chega um outtake do Zeitgeist em cena, a faixa “Gossamer”, seguida de uma introdução bem animada por parte da banda, com direito a piadas de tiozão por parte do frontman. Cuja reação de James Iha seria a mesma que um amigo seu durante a segunda metade da década passada fazendo um post bem humorado com um punchline aterrador, precedidas de alguns trechos de covers de músicas como “Thunderstruck” (AC/DC), iniciado por Kiki. Essa por sinal, demonstrou grande versatilidade e presença de palco ao vivo com seus headbangings durante o show que fariam Tom Araya (Slayer) chorar no banho agachado.

Eis que após o bom humor e leveza toma conta do pedaço com a energia de “Cherub Rock”, agitando o público que se surpreende com a virada de Chamberlin, mantendo a explosiva intensidade ao ouvir o “Siamese Dream” pela primeira vez.

Para quem ainda esperava a saideira, chegou com “Zero”, faixa de menos de 3 minutos que encerra o show da forma como esse merecia, surpreendendo no encore com um cover de outra grande inspiração da banda, David Bowie com a canção “Ziggy Stardust”. Assim a banda homenageou o músico que havia partido em 2016 de forma épica, deixando o público satisfeito, participando de coração aberto dessa, de forma maravilhosa, encerrando então, um grande momento que vai entrar para história de shows e eventos no país.

Infelizmente a faixa “Rhinoceros” do primeiro álbum “Gish” (1991) e o B-Side “Drown” que marcou época por estar presente na trilha sonora do filme grunge “Singles – Vida de Solteiro” (1992), não estiveram presentes nessa turnê sul-americana, pelo menos, para o público brasileiro, considerando que a banda ainda está fazendo shows no continente.

Por fim, um total de 22 músicas com algumas surpresas se comparado com o setlist com menos de 3 músicas da apresentação no Ginásio Nilson Nelson.

Brinde pelo rápido sold-out no início das vendas no meio do ano em julho? Bem, assim espero, porém, outra coisa espero, é que não demorem quase 10 anos novamente para virem para cá, considerando a possibilidade de terem em 2020 estragada por um micróbio inconsequente.

“Confie em mim, a gente quer ir pro Brasil. Se você soubesse da história por trás das nossas tentativas de ir à América do Sul nos últimos anos… é um artigo de revista completo” – Billy Corgan em entrevista ao TMDQA – meados desse ano.

Quero terminar aqui com uma pergunta para você refletir: caso não tenha visto a formação original ao vivo antes, porém, tendo visto agora com 3/4 dos integrantes, o que diria ao seu eu mais novo que estava tão eufórico ao ter comparecido a essa recente oportunidade? – Bem, tudo o que posso dizer, é que eu já dei a minha resposta a aquele garoto e ele brilha os olhos aliviado.

The Smashing Pumpkins @Espaço Unimed/SP. Foto: Maurício SIlva
Terno Rei @Espaço Unimed/SP. Foto: Maurício SIlva

Autor

  • Maurício Silva

    Maurício é um rapaz que cresceu com pais músicos e sempre com um ouvido aberto e atento, desde o mais clássico até mesmo o mais extremo. Fã declarado e incondicional de Sepultura, Emperor, Alice In Chains e Dimmu Borgir.

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