Assistir à qualquer espetáculo no Royal Albert Hall em Londres seria por si só um grande evento, já que o mítico teatro inaugurado na segunda metade do século 19 já recebeu ao longo de décadas muitos concertos dos mais diversos estilos musicais, tendo no rock e suas vertentes uma série de álbuns ao vivo icônicos gravados em seu palco como Bryan Ferry, The Who, Creedence Clearwater Revival, Emerson Lake And Palmer, Eric Clapton, Joe Bonamassa e mais recentemente, Bryan Adams.
Mas em 09/10/2024 o concerto que aconteceu por lá não foi um qualquer, já que quem voltou ao palco do local para início de uma residência de 6 apresentações que ocorreram durante duas semanas foi o ex-guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour.
David Gilmour aliás que em 2006, gravou o DVD Remember That Night durante três noites de apresentação no teatro, que fizeram parte da turnê On A Island.
Acompanhado de uma bandaça que têm dois colaboradores de longa data sendo eles, Guy Pratt (Baixo – Este desde dos tempos de Pink Floyd) e Greg Phillingaines (Teclados), Rob Gentry (Também nos teclados), Adam Betts (Bateria), Ben Worsley (Guitarra), Louise Marshall e as Webb Sisters, Charile e Hattie (Vocais) e ainda, a filha de Gilmour, Romany (Tocando harpa e também cantando).
O show fez parte da turnê de divulgação do fantástico álbum Luck And Strange, lançado pouco mais de um mês antes desta apresentação. E cabe destaque que ao menos os shows iniciais desta turnê (e os únicos agendados até o momento de redação deste texto) foram ou serão em 4 locais icônicos, tendo começado duas semanas antes no também mítico Circo Máximo de Roma e que atravessariam o Atlântico após a residência Londrina para shows no Madison Square Garden em Nova Iorque e Hollywood Bowl em Los Angeles.
Poucos instantes após um simpático e falante Guy Pratt subir ao palco antes do show meio que como um mestre de cerimônias ensinando de forma muito didática de que os celulares deveriam ficar guardados na maioria do tempo e ainda, que quando utilizados os flashes deveriam ser desligados, Gilmour entrou sozinho para solar na introdução do álbum de 2015, Rattle That Lock, 5 A.M. seguido da vinheta de abertura de Luck And Strange, Black Cat, para depois a banda tomar o palco para a música título ser tocada, ficando aí a observação da perfeição da regulagem de som e nitidez de tudo que era tocado e cantado em cima do palco enaltecendo neste caso inclusive o salto na voz que o guitarrista dá na canção. Nada mal para um senhor britânico de 78 anos.
Após a intro mecânica de Speak To Me, chega uma bem-vinda sequência de Pink Floyd com Breathe, Time (essa com Greg Phllingaines fazendo as vezes das vozes de Roger Waters), Fat Old Sun (com um efeito lindo no telão), Marooned (The Division Bell dando as caras pela primeira vez) e por fim, Wish You Were Here, magistralmente executada.
A vinheta Vita Brevis entra em seguida abrindo caminho para uma das partes mais emocionantes e bonitas do concerto, quando Romany, filha do guitarrista sobe ao palco para cantar e dedilhar sua harpa em Between Two Points. Cover de uma canção de um duo britânico chamado The Montgolfier Brothers, basta escutarmos a música original para entendermos que Gilmour se apropriou da música, criando uma versão melhor e já, definitiva.
A primeira parte do show foi fechada com High Hopes (The Division Bell de novo), gerando catarse no público, principalmente no momento do solo, quando as bolas infláveis foram lançadas sobre a platéia que ocupava o nível do palco no teatro.
Após um intervalo que segundo disseram foi de 45 minutos, a banda novamente sobe ao palco, já com Romany Gilmour integrada ao time das demais vocalistas e abre a segunda parte com uma versão pesada e pungente de Sorrow, do primeiro álbum do Pink Floyd sem Roger Waters, o por muitas vezes subestimado A Momentary Lapse Of Reason.
Os backing vocals de Romany voltam a ser destaque na música seguinte, The Piper´s Call, que emenda na sequência uma sensível versão de A Great Day Of Freedom (mais uma vez The Division Bell).
O Rattle That Lock volta a surgir no setlist com In Any Tongue, para na sequência o palco ser tomado por um piano e ainda candelabros, para uma versão desconstruída de A Great Gig In The Sky com uma performance incrível das vocalistas abrindo caminho para A Boat Lies Waiting – esta, homenagem ao saudoso e grande amigo de Gilmour, Richard Wright- e mais uma do The Division Bell, Coming Back To Life.
O show fecha com mais três músicas do Luck And Strange, a irmã mais nova de Money, Dark And Velvet Nights, Sings – com um momento bem emotivo no telão com vídeos de David Gilmour tocando junto de seus filhos ainda pequenos – e fechando com Scattered, onde temos na cara a assinatura dos solos do guitarrista terminando tudo de maneira apoteótica, ou quase, já que ela, Comfortably Numb ficou reservada para o Bis, trazendo a verdadeira apoteose.
Com agora Guy Pratt fazendo as vezes da voz de Roger Waters, não tem como não ficar minimamente com os olhos marejados, seja em qualquer intervenção da guitarra de Gilmour ou mesmo com o jogo de lasers que tomou todo o teatro.
Poucos indícios existem de que o guitarrista irá prolongar a turnê para muito além das 4 localidades agendadas, já que deixou claro que em breve gostaria de entrar em estúdio e gravar mais um álbum (e possivelmente o último).
Posto isso, em 09/10/2024 ele apresentou um espetáculo como poucos, que para os presentes (incluindo este que vos escreve) levou para outro patamar o termo ´zerar a vida´.
A torcida é que a turnê se estenda além do que já foi agendado e sejamos agraciados em terras brasileiras com mais uma passagem dele por aqui e que mais pessoas (em um local maior) possam ter a oportunidade de zerar a vida, assim como os pouco mais de cinco mil presentes em cada uma das seis noites desta residência no Royal Albert Hall tiveram.
Veja a galeria de fotos:
Assista trechos do show de David Gilmour no Royal Albert Hall
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