Em “Headwires”, faixa lançada no álbum There Is Nothing Left to Lose (1999), o Foo Fighters prestou uma homenagem discreta aos Rolling Stones. Embora a canção não tenha sido promovida como single, ela ganhou novo destaque anos depois, quando Dave Grohl revelou a inspiração por trás de seu groove.
A ligação entre as duas bandas vai além da admiração mútua. Mick Jagger e Grohl chegaram a colaborar oficialmente na música “Eazy Sleazy”, lançada em 2021. O resultado dividiu opiniões, mas foi recebido com entusiasmo pelos envolvidos. Em entrevista à BBC, Jagger descreveu o processo como “divertido” e elogiou a espontaneidade do parceiro de gravação.
“Ele disse ‘vou tocar amanhã. Adorei’. Então ele fez isso na hora”, contou Jagger, destacando a rapidez com que Grohl aceitou o convite (via Far Out Magazine). O vocalista ainda ressaltou o estilo característico do ex-Nirvana na bateria, algo que, segundo ele, se destacava mesmo para alguém acostumado a tocar com Charlie Watts por décadas.
Grohl nunca escondeu sua admiração pelos Rolling Stones. Ainda adolescente, relembra com humor um dos primeiros shows de sua antiga banda escolar, quando decidiram tocar “Time Is On My Side” em um asilo. “Tínhamos uns 12 ou 13 anos… Tocamos para pessoas de 90 anos. E não percebemos a ironia da escolha”, contou à revista Kerrang!.
A conexão afetiva com o repertório dos Stones acabou refletida anos depois em suas composições com o Foo Fighters. Em entrevista posterior, Grohl afirmou que “Headwires” é “uma homenagem a Tattoo You, dos Rolling Stones”, disco de 1981 que marcou uma fase mais polida da banda britânica.
Com andamento moderado e levada constante, “Headwires” constrói sua atmosfera a partir de uma base simples e grooves suaves. A influência dos Stones aparece na escolha dos acordes e na estrutura da música, que privilegia a construção gradual da melodia. Ainda assim, o refrão carrega a assinatura do Foo Fighters, com vocais ascendentes e intensificação do arranjo.
A faixa também se destaca por manter um clima introspectivo, em contraste com outros sucessos mais explosivos do grupo. Essa contenção, que remete à abordagem de faixas como “Waiting on a Friend” ou “Heaven”, do próprio Tattoo You, reforça o tributo proposto por Grohl — mesmo sem repetir a fórmula dos britânicos.
Apesar da diferença de gerações, Foo Fighters e Rolling Stones compartilham o domínio sobre grandes palcos e multidões. Ambos construíram carreiras longevas, reinventando-se sem abandonar seus alicerces. No caso do Foo Fighters, incorporar referências diretas ao som de Jagger e Richards foi uma forma de reconhecimento e aprendizado.
Essa reverência é mais perceptível quando se analisa a evolução da banda ao longo dos anos. Mesmo em álbuns recentes, Grohl segue retomando elementos clássicos do rock, mas filtrando tudo pelo seu próprio vocabulário musical. A homenagem em “Headwires” funciona, portanto, como parte de uma conversa musical contínua entre gerações.
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