Discos de osso: quando raios-X levaram rock, jazz e blues à juventude soviética

Durante o pós-guerra, o regime de Josef Stalin impôs duras restrições culturais na União Soviética. A escuta de música ocidental — como jazz, rock e blues — acabou proibida, dando lugar apenas a repertórios autorizados pelo Estado.

Mesmo sob o controle rígido, jovens soviéticos encontraram meios criativos de ouvir o que o governo não permitia. A saída mais inusitada surgiu entre chapas hospitalares: discos feitos com negativos de raio-X.

A técnica, conhecida como roentgenizdat, passou a circular na década de 1950, com engenheiros de som adaptando imagens médicas para virar suporte fonográfico. Cada chapa era cortada no formato de um compacto de 7 polegadas.

O furo central era feito com a brasa de um cigarro. A gravação ocorria a 78 rotações por minuto e o resultado durava, no máximo, dez audições. Apesar da qualidade irregular, o som trazia vozes como Elvis Presley, Louis Armstrong e Billie Holiday.

Esses discos ficaram popularmente conhecidos como “discos de osso”. A origem do nome vem justamente das imagens visíveis nas chapas: costelas, fêmures, clavículas e outras partes do corpo.

Ruslan Bogoslowskij, considerado o principal nome por trás do método, fundou uma gravadora clandestina especializada nesse tipo de material. Foi preso pelo menos três vezes por “divulgar material indevido”.

O comércio funcionava de maneira informal, passando de mão em mão. Os discos custavam poucos rublos e eram vendidos em mercados paralelos, sempre com receio da vigilância do Estado.

A repressão se intensificou em 1959, quando as autoridades declararam os discos ilegais. Quem fosse flagrado com esse tipo de gravação enfrentava prisões ou até deportação para campos de trabalho forçado.

Décadas depois, projetos como o X-Ray Audio vêm resgatando essa história. As imagens nas chapas, os ruídos metálicos e os chiados tornaram-se símbolos de resistência cultural.

Hoje, os discos de osso circulam em exposições, livros e documentários, revelando como a música encontrou meios para continuar viva, mesmo sob censura. No perfil abaixo (Pandora Pix), que originou esta matéria, você pode ver melhor as fotos.

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