O que deu errado para Gary Cherone e o Van Halen?

Luis Fernando Brod
4 minutos de leitura
Gary Cherone/Van Halen. Foto: Jim, Davis/Globe Staff.

Quando Sammy Hagar deixou o Van Halen em 1996, poucos imaginavam que a banda poderia seguir em frente sem uma nova ruptura.

David Lee Roth já era passado e Hagar havia garantido quase uma década de estabilidade comercial.
Com Eddie Van Halen ainda no auge técnico, o desafio era encontrar uma voz capaz de preencher um espaço duplamente simbólico: o de cantor e de parceiro criativo.

Foi nesse cenário que surgiu Gary Cherone, até então conhecido como vocalista do Extreme. A escolha surpreendeu parte da imprensa e dos fãs, mas fazia sentido para Eddie. Cherone tinha uma presença de palco disciplinada e uma voz que combinava potência e alcance, características valorizadas em um grupo acostumado à grandiosidade.

O álbum “Van Halen III”, lançado em 1998, representou o momento mais experimental da banda.
Eddie assumiu boa parte das composições e buscou um som mais introspectivo, com faixas longas e arranjos pouco convencionais. A leveza festiva dos anos 1980 deu lugar a uma tentativa de amadurecimento que, na prática, distanciou o grupo de seu público tradicional.

Cherone parecia dividido entre duas heranças difíceis. Por um lado, havia a teatralidade provocadora de David Lee Roth. Por outro, a técnica poderosa de Sammy Hagar. Sem espaço para imprimir uma identidade própria, ele acabou soando como uma mistura dos dois, sem a espontaneidade de nenhum. Músicas como “Fire in the Hole” e “Year to the Day” mostravam uma banda talentosa, mas sem direção clara.

Apesar da boa relação pessoal entre Eddie e Cherone, o clima dentro do grupo ficou pesado após o desempenho comercial decepcionante do disco. Em entrevistas posteriores, o vocalista revelou que as gravações haviam sido tensas e longas, com dúvidas constantes sobre o rumo do projeto. “Sentamos, eu e Alex. Ele disse: ‘Sentimos que você está infeliz e um pouco frustrado’”, recordou Cherone anos depois, em conversa com a revista Classic Rock. Segundo ele, a separação ocorreu de forma respeitosa, sem brigas públicas ou declarações amargas.

Para Eddie Van Halen, o período foi de introspecção e autocrítica. A pressão por resultados e o desgaste emocional o levaram a um dos momentos mais difíceis de sua vida pessoal. Nos anos seguintes, o guitarrista enfrentaria problemas de saúde e alcoolismo antes de retomar os palcos ao lado de Roth em 2007.

O breve tempo de Gary Cherone no Van Halen costuma ser lembrado como um desvio incômodo na trajetória da banda. Mas, sob outro olhar, aquele momento refletiu a tentativa honesta de um grupo veterano de reinventar sua linguagem. Mesmo sem repetir o sucesso dos anos anteriores, “Van Halen III” registrou a inquietação de Eddie em continuar explorando novas ideias, longe do conforto das fórmulas conhecidas.

Cherone, por sua vez, seguiu com o Extreme, mantendo respeito pelos ex-companheiros. “Eu e Eddie começamos como amigos e terminamos como amigos”, afirmou. Essa serenidade talvez explique por que ele foi o único vocalista da história do Van Halen que saiu sem deixar feridas abertas — um feito raro em uma banda acostumada a viver no limite entre genialidade e conflito.

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