Por que “Load” e “Reload” soam tão diferentes na discografia do Metallica

Luis Fernando Brod
3 minutos de leitura
Bob Rock. Foto: Reprodução.

Mais de duas décadas após seus lançamentos, os álbuns “Load” (1996) e “Reload” (1997) ainda despertam debate entre os fãs do Metallica. Com sonoridade distante do thrash metal dos primeiros discos, essas obras representaram uma ruptura consciente com o passado da banda. Em entrevista recente ao podcast The Metallica Report, o produtor Bob Rock explicou os bastidores dessa mudança.

Com base em informações divulgadas pela Loudwire, Rock afirmou que a intenção era clara: criar um novo capítulo. “Se ‘Kill ’Em All’ foi uma declaração de intenções, e ‘Master of Puppets’ consolidou o thrash, ‘Load’ precisava ser o próximo passo”, disse o produtor. Essa direção se refletiu tanto nas composições quanto nas escolhas estéticas da banda.

No início dos anos 1990, o Metallica já era uma banda consagrada. O sucesso do “Black Album” em 1991 expandiu sua base de fãs e abriu caminhos para experimentações. “Foi a primeira vez que as influências de cada integrante puderam brilhar de verdade”, comentou Rock. Essa liberdade moldou o som mais lento, denso e orientado pelo blues que define os dois discos.

Lars Ulrich teve papel central na mudança de direção. Segundo Rock, foi do baterista a ideia de olhar para fora do metal, incorporando elementos de hard rock e até de bandas como Aerosmith e Rolling Stones. “Ele é o tipo de músico que pensa grande e enxerga a música como eu”, afirmou o produtor.

A dinâmica entre as guitarras também mudou. James Hetfield, tradicionalmente responsável pelas bases, assumiu os solos e os riffs, enquanto Kirk Hammett ficou com os arranjos rítmicos. Essa inversão, aliada ao uso de afinações mais graves e a uma produção mais atmosférica, deu a “Load” e “Reload” um som mais orgânico e amplo.

Essas transformações foram intencionais, mas nem sempre bem recebidas. Parte do público viu os discos como um afastamento da essência da banda. No entanto, para outros ouvintes, eles representam uma tentativa legítima de renovação e liberdade criativa em um momento de estabilidade comercial.

A estética visual também acompanhou a guinada sonora. As capas criadas por Andres Serrano, os cabelos cortados da banda e os figurinos adotados nas turnês foram vistos como símbolos de uma fase mais “moderna” do Metallica — e igualmente divisiva.

Com o tempo, os discos passaram a ser revisitados com outros ouvidos. Faixas como “The Memory Remains”, “Bleeding Me”, “Fuel” e “Fixxxer” passaram a ser citadas por músicos de diferentes gêneros como influentes. Em 2023, James Hetfield chegou a afirmar que “ainda há muito de ‘Load’ a ser compreendido”.

Para Bob Rock, a intenção nunca foi abandonar o passado, mas sim expandir o repertório da banda. “Estávamos tentando encontrar novas formas de fazer o Metallica soar como Metallica, mesmo sem os elementos tradicionais”, explicou.

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