Apontar uma única banda ou disco como criadores do punk rock é uma tarefa herculeana, há muitos candidatos para o surgimento do gênero como as bandas de Detroit do MC5, Iggy e sua trupe do The Stooges, ou mesmo as bandas garageiras como The Seeds, The Sonic e The Kingsmen ou ainda os britânicos do The Kinks.
Embora todos eles contribuíram em algum grau para a criação do punk, pouco se falou de outro grupo que nos anos 60 carregava consigo o espírito do gênero, não só na sua música, mas principalmente no conteúdo lírico.
A banda em questão é o The Fugs que muito antes do estilo punk zombeteiro de Jello Biafra e seu Dead Kenneys já incorporava tais características e mostrava que estava muito à frente de seu tempo.
O The Fugs se estabeleceu no final dos anos 60, mas seu primeiro disco foi lançado em 1965, a banda foi formada pelos poetas Ed Sanders e Tuli Kupferberg, juntamente com o baterista Ken Weaver no final de 1964.
A banda é considerada genuinamente a primeira banda underground, a começar pelo nome criado por Kupferberg a partir do eufemismo para ‘foda-se’ usado no romance de Normal Mailer de 1948, The Naked and the Dead. Lembrando que na época palavrões eram proibidos, mesmo para os mais rebeldes.
Outros membros foram incorporados ao grupo como Peter Stampfel para o violino e Steve Weber na guitarra, ambos vindos do The Holy Modal Rounders.
A obscenidade desafiadora de tabus e a acidez política do The Fugs os tornaram favoritos da contracultura. Na verdade, tornaram-se tão estimados por sua inclinação política e sentimento anti-guerra do Vietnã durante a década de 1960 que o FBI começou a prestar atenção neles.
Em um arquivo do FBI sobre The Doors datado do final da década de 1960, um trecho diz que o primeiro álbum da banda, The Fugs First Album, é “a coisa mais vulgar que a mente humana poderia conceber”. Receber esse tipo de resposta do FBI não poderia ser considerado mais punk.
Outra demonstração da posição do The Fugs como os primeiros punks ocorreu em 2012, quando a NPR entrevistou Ed Sanders. Lendo um panfleto de um show em agosto de 1965, o conteúdo sugere que eles não eram apenas a primeira banda punk, mas também a primeira banda de metal. Dando credibilidade a essa ideia, alguns dos tons de guitarra saturados ouvidos em sua obra seriam replicados por Led Zeppelin e Black Sabbath no início da década de 1970.
Embora a música Born to Be Wild de 1968 da Steppenwolf seja amplamente considerada a primeira menção ao heavy metal, essa ideia é desfeita pelo panfleto. Ele dizia: “The Fugs apresentam: Noite de napalm, canções contra a guerra, gritos de bombas de rock’n’roll, orgasmos de heavy metal! Assista todos os The Fugs morrerem em um ataque de napalm!”
Fortalecendo ainda mais a teoria de que o The Fugs foram os primeiros punks, é essencial para o estilo que os músicos não apenas apresentem palavras de protesto mas também colocassem suas ações em prática.
E nisso eles não decepcionaram, a banda estava presente na histórica marcha do Comitê Nacional de Mobilização para Pôr Fim à Guerra no Vietnã ao Pentágono em 1967, na qual eles e outros supostamente tentaram cercar e levitar o Pentágono. Esse momento é narrado no livro de Norman Mailer, Os Exércitos da Noite.
Além disso, esse evento é apresentado no álbum dos Fugs de 1968, Tenderness Junction, intitulado Exorcising the Evil Spirits from the Pentagon Oct. 21, 1967.
De antemão, Sanders e Kupferberg prepararam um elaborado ritual de exorcismo e alugaram um caminhão-plataforma junto com um sistema de som. Como é ouvido no álbum, os dois reuniram uma grande multidão em frente ao Pentágono e gritavam repetidamente: “Fora, demônios, fora!”
Semelhante ao que o ex-vocalista do Dead Kennedys, Jello Biafra, faria mais tarde, isso estabeleceu um precedente para tudo o que estava por vir no punk, incluindo as famosas travessuras de Malcolm McLaren com os Sex Pistols. Acho que já passou da hora de todos os outros saberem que de fato, The Fugs foram a primeira banda punk.
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