“Era pandemia, me dei uma guitarra de presente de aniversário e comecei a compor”, conta Luiza Pereira, que agora assina como MADRE o seu projeto solo. A artista – que ganhou notoriedade no cenário do indie brasileiro tocando synth e cantando na banda INKY – lança agora seu primeiro álbum solo, Vazio Obsceno (Seloki Records), e apresenta sua nova faceta musical. “Eu nunca tinha tocado guitarra antes, então pude criar de forma muito livre e intuitiva. Meu processo de composição foi uma catarse sonora de tudo que eu estava sentindo e do contexto à minha volta na época”, continua. Feito durante a pandemia de Covid-19, o disco possui oito faixas e tem produção musical assinada pela artista juntamente com Luccas Villela. Com o disco, chega também um manifesto anti-digital que justifica o caráter inusitado do lançamento: o disco estará disponível nas plataformas de streaming por apenas seis meses. Depois deste período, poderá ser ouvido em versão física.
A criação do manifesto surgiu a partir de inquietações da artista a respeito das empresas de streaming de música, como a não-remuneração e a precarização do trabalho dos artistas. “Estão claros os efeitos negativos – e positivos também – que a cultura digital trouxe para a música independente, mas sinto que nos tornamos reféns e que estamos acovardados diante do que parece ser a única alternativa – que não é justa, nem sustentável. Existem outros caminhos para resgatar o consumo de música e a relação de ouvinte/artista de forma mais humana, para além do digital. Música sempre foi sobre comunidade e experiência. Tenho mais interesse em ter uma micro comunidade de pessoas reais que me acompanham, do que focar em números virtuais que muitas vezes nem convertem em nada concreto”, divide Luiza.
De tom intimista, o álbum começou a ser criado a partir de experimentações e traz temas como a desesperança e o ressentimento, além de desejos e devaneios. “Esse é meu primeiro disco solo, o primeiro que eu assino a produção, e o primeiro tocando guitarra, que foi o fio condutor das músicas. Foi importante para mim que a guitarra traduzisse minhas emoções. Hora melancólica, hora agressiva e cheia de ruído”, comenta Luiza. “Eu não tinha nenhum conceito em mente quando comecei a compor. Eu só queria experimentar e ter um lugar para extravasar. De forma inconsciente explorei contrastes e contradições: luz e sombra, fragilidade e agressividade, impulso de vida e morte”, continua.
Gravado no estúdio Sítio Romã, no interior de São Paulo, o disco tem participação de Fabiano Benetton (Odradek) que gravou linhas de guitarra em Sirenes, e de Rodrigo Coelho, que tocou Bass VI em todas as faixas do álbum. “O Luccas Villela e eu queríamos que esse processo fosse imersivo, com liberdade de horário para gravar. E foi a experiência de estúdio mais leve e divertida que eu já tive, tudo fluiu muito bem e muito rápido”, conta Luiza.
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