O ano de 1985 marcou um momento de transição na música popular, com artistas explorando novas sonoridades sem uma direção clara para o futuro. O advento da tecnologia digital, sintetizadores mais acessíveis e a crescente influência da cultura televisiva transformaram as produções musicais.
Ao mesmo tempo, o rock enfrentava uma encruzilhada entre o legado das décadas anteriores e a necessidade de adaptação a um novo cenário. Segundo Simon Reynolds, no livro “Rip It Up and Start Again” (2005), o pós punk dos anos anteriores começava a perder sua força original, enquanto bandas como The Cure e New Order reformulavam sua identidade sonora para se manterem relevantes na era do videoclipe e da música eletrônica.
Um exemplo claro dessa mudança foi o uso intensivo de produção eletrônica no pop. Álbuns como “Brothers in Arms” do Dire Straits e “Songs from the Big Chair” do Tears for Fears demonstraram como a estética digital se tornava dominante. O primeiro, lançado em maio de 1985, foi um dos primeiros discos gravados inteiramente em tecnologia digital e se tornou um dos mais vendidos da década, segundo a RIAA.
O segundo mostrou uma fusão de rock e sintetizadores, influenciado pelo new wave, resultando em sucessos como “Shout” e “Everybody Wants to Rule the World”. A música deixava de ser apenas um reflexo da performance ao vivo para se tornar uma construção minuciosa de estúdio, influenciada pelo avanço dos samplers e drum machines, como aponta Mark Fisher em “Ghosts of My Life” (2014).
No entanto, o futuro da música não estava definido. Enquanto alguns artistas abraçavam completamente a tecnologia, outros buscavam resgatar elementos tradicionais. O Live Aid, realizado em julho de 1985, exemplificou esse paradoxo: bandas como Queen e U2 se destacaram pelo uso de performances clássicas e carismáticas, enquanto artistas como Madonna e Duran Duran consolidavam o formato altamente produzido do pop televisivo.
Em “Retromania” (2011), Reynolds discute como esse período preparou o terreno para o final da década, quando a música eletrônica, o hip-hop e o rock alternativo competiriam por espaço. O ano de 1985 mostrou que a indústria estava aberta a experimentações, mas ainda não sabia qual seria sua próxima grande tendência. Essa incerteza definiu um período de inovação e risco, no qual os artistas testavam os limites do som e do formato musical sem uma rota clara para a próxima década.
Pensando nisso, a Ultimate Classic Rock fez um levantamento dos 40 melhores álbuns lançados em 1985. Separamos pra vocês os 5 primeiros da lista.
5. Talking Heads, ‘Little Creatures’

Em “Little Creatures” (1985), os Talking Heads exploraram o folk e a música americana sem perder sua identidade. O sexto álbum da banda marcou uma guinada para composições mais tradicionais, com “And She Was” e “Road to Nowhere” destacando instrumentação country. Apesar da mudança, o trabalho manteve a essência experimental do grupo.
4. Aerosmith, ‘Done With Mirrors’
Em 1985, o Aerosmith dava sinais de recuperação. O álbum Done With Mirrors marcou o retorno dos guitarristas Joe Perry e Brad Whitford após anos de problemas com drogas e vendas baixas.
Apesar de não ter conquistado o grande público, o trabalho preparou o terreno para Permanent Vacation (1987), que alavancou o renascimento da banda no final dos anos 1980 e início dos 1990.

3. John Cougar Mellencamp, ‘Scarecrow’

O oitavo álbum do artista, lançado em 1985, elevou sua crítica social iniciada em “Pink Houses”. Canções como “Rain on the Scarecrow” e “Small Town” consolidaram seu rock heartland contestador, num momento equivalente ao “Born in the U.S.A.” de Springsteen.
Apesar de manter “Cougar” no nome até os anos 90, o disco representou sua afirmação artística autoral. A obra tensionava os ideais americanos com a realidade rural, marcando um ponto de inflexão em sua carreira.
2. Tears for Fears, ‘Songs From the Big Chair’
O segundo álbum da dupla britânica explorou temas como infância e terapia com mais intensidade que o disco de estreia. Apesar das letras densas, “Songs From the Big Chair” (1985) tornou-se um sucesso graças a melodias cativantes e performances marcantes.
A combinação de synth-pop refinado com ganchos memoráveis garantiu ao trabalho um lugar entre os mais importantes do ano. As canções transformaram angústias pessoais em hinos pop acessíveis.

1. Dire Straits, ‘Brothers in Arms’

Com um estilo meticuloso que os diferenciava dos pares dos anos 1970, o Dire Straits chegou aos anos 1980 entre blues e rock progressivo. Seu quinto álbum, “Brothers in Arms”, surpreendeu ao se tornar um fenômeno, impulsionado pelo hit “Money for Nothing” – ironicamente, uma crítica à MTV que virou sucesso na própria emissora.
Mark Knopfler construiu canções elaboradas, como os oito minutos de “Money for Nothing”, com participação de Sting. O álbum, mesclando sutileza e grandiosidade, consagrou-se como um marco. Vencedor de múltiplos Grammys, elevou a banda ao topo – e, logo depois, afastou Knopfler dos holofotes.
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