5 álbuns sem os quais não consigo viver, por Virgilio Migliavacca (Disconecta)

É aquela história de sempre: difícil escolher somente 5 discos! Além disso, se for escrever amanhã, periga listar outros 5 totalmente diferentes. Dito isso, pensei em álbuns que me levaram a outros álbuns e estilos diferentes. Listei eles na ordem em que entraram na minha coleção. Vamos lá! 

Foo Fighters – There Is Nothing Left To Lose (1999) 

É fácil falar mal do Foo Fighters hoje em dia, em meio às recentes polêmicas de seu líder, outrora o “cara mais legal do rock”. Isso para não falar da grandiloquência que ele emprega aos trabalhos do grupo já há algum tempo. Em 1999 a coisa era bem diferente. Depois de transformar seu projeto solo pós-Nirvana em banda, com o definidor “The Colour And The Shape (1997), essa mesma banda sofre com as baixas de seu baterista e do guitarrista Pat Smear (ex-Germs e Nirvana). Com a chegada de Taylor Hawkins, Dave e seu fiel escudeiro Nate Mendel lançam seu disco mais descompromissado, gravado de forma caseira, sem a inchada formação dos trabalhos subsequentes. O som por vezes é mais pesado, em outras resvala no power-pop, mas sempre com aquela cara de banda indie, tão distante do FF das grandes arenas de hoje em dia. Foi esse disco que, indiretamente, me apresentou desde Queens Of The Stone Age (com quem Grohl excursionaria logo em seguida) ao Teenage Fanclub e que inspirou bandas tão queridas, como a gaúcha Superguidis.  

Pato Fu – Ruído Rosa (2001) 

A música brasileira tem uma tradição riquíssima e incontestável. Minha formação inicial de ouvinte não foi com MPB, mas sim com o rock brasileiro dos anos 80, tão devedor ao formato já consagrado pelas bandas gringas do mesmo período. Só fui entender a importância dos elementos nacionais no estilo à partir das misturas geradas pelas bandas dos anos 90, tais como Raimundos, O Rappa, Planet Hemp e Nação Zumbi. Mas a minha preferida é talvez uma das menos celebradas dessa geração, e provavelmente a menos “abrasileirada” de todas: O Pato Fu. 

O meu disco preferido, da minha banda nacional preferida, é “Ruído Rosa” (2001), que, de um jeito bem particular dos mineiros, tem muito de brasilidade. Ela se encontra no cavaco de “Tribunal de Causas Realmente Pequenas”, nas covers de bandas BR clássicas como Ira! (em “Tolices”) e Mutantes (em “Ando Meio Desligado”), além dos gaúchos da essencial Graforréia Xilarmônica (em “Eu), bem como em letras que falam de mazelas da nossa sociedade (em “Deus”). Estão lá também as influências de bandas de fora do país que admiro muito, como na Radioheadana “Ninguém” e em “Menti pra Você, Mas Foi sem Querer” homenagem declarada aos gauleses do Super Furry Animals. Foi o disco que me ensinou que dá para ser coeso em um álbum, sem renunciar a certa diversidade sonora.  

Prodigy – The Fat of the Land (1997) 

Esse CD do Prodigy foi inicialmente alugado (sim, em priscas eras, isso era possível) única e exclusivamente por conta da sua capa, que me deixou curioso. 

Voltei na loja em seguida e comprei, pois pirei naquele som extremamente pesado, que me fez entender que música eletrônica não era só aquele bate estaca sem personalidade que rolava nas festas. Me fez ver as infinitas possibilidades que os sons sintetizados apresentavam, inclusive para as minhas amadas bandas de rock. “The Fat of the Land” antes de qualquer coisa, é um disco punk, na estética e na atitude. Aqui entendi que essa tal de atitude pode eventualmente ser tão importante quanto a sonoridade, e abriu minha cabeça para artistas como Air, Fatboy Slim, Chemical Brothers e tantos outros que conseguiam provocar sem necessariamente usar guitarras. Sem eles, nunca entenderia um clássico do rock como Ok Computer do Radiohead, lançado no mesmo ano, e que contém altas doses de elementos eletrônicos. 

Marvin Gaye – What’s Going On (1971) 

Disco importado com preço acessível, outra coisa que não se vê há tempos. Vinha cansado dos mesmos discos de rock, a fase eletrônica já tinha perdido um pouco de força, e queria me aventurar por novos sons. Já vinha aos poucos me interessando pelos clássicos da gravadora Motown, do Funk e do Soul de um modo geral, e como entrada principal destes na discoteca, porque não a maior obra prima, de um dos maiores artistas não só da gravadora citada, como da história da música negra americana? Neste clássico absoluto, que emenda uma faixa na outra como se fosse apenas uma longa suíte, Gaye abandona os temas românticos usuais para abordar questões sociais relevantes para a época, sem perder a alma da canção em momento nenhum. Me fez entender que toda a música é negra, e me levou para além do soul, chegando até o Jazz e o Afrobeat.  

Soda Stereo – Cancíon Animal (1990) 

Já foi pior, mas até hoje, em certa medida a cultura latina é relegada a segundo plano no Brasil. Conhecendo hoje o trabalho do Soda Stereo, é impensável para mim que aquela que já foi a maior banda de rock da América Latina (com níveis de alvoroço semelhantes a Beatlemania não só na Argentina, mas em outros países como o Chile), nunca tenha tocado em nosso país. “Canción Animal” é manjado em sua terra natal, o equivalente a ouvirmos pela milésima vez aquele disco da Legião Urbana. Para mim era nada menos que uma excelente novidade, quando adquiri o CD em 2016, numa viagem a Buenos Aires. É daqueles discos que me provam que a música pode nos levar diretamente a um local, ou a um período específico da vida, pois cada vez que boto o disco para tocar, lembro imediatamente daquela viagem. Além disso, à partir dele, fui apresentado a todo um universo de clássicos do rock não só argentino, como de outros países vizinhos ao nosso.   

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